José
Damasceno
CINEMATOGRAMA
Projeto Respiração
1ª edição
26/08 a 03/10/2004
Por onde e como começar a escrever sobre Cinematograma? Essa é a pergunta que me faço diante de um conjunto de obras que trazem enigmas e clarividências. Clarividências porque José Damasceno inventa imagens que se impõem à nossa percepção de forma simples e direta. Enigmas porque, como “epifanias profanas”, elas nos surgem como aparições de sentido, cuja procedência e origem não conseguimos detectar com precisão. Talvez as soluções dos enigmas possam estar implícitas nas clarividências, assim como as clarividências podem se transformar nos enigmas que desafiam nossa percepção. José Damasceno foi o primeiro artista convidado a participar do Projeto Respiração porque sua obra se adequava com precisão ao conceito da curadoria de que, através da casa-museu de Eva Klabin, é possível pensar que o virtual é também real. Acredito ser essa a chave que nos permitirá acesso não só a Cinematograma, como também à sua obra.
A sensação primeira da intervenção é de uma força avassaladora que capta a nossa percepção porque explicita os diferentes ambientes da casa como pura imagem. É como se, com as obras de Damasceno, passássemos a percorrer a casa-museu como se estivéssemos num cinema sem filme. O artista transforma a Fundação Eva Klabin em cinema. Desfaz através de sua intervenção o que poderia na casa induzir a um set de filmagem ou cenários de uma peça, achatando a profundidade do espaço em planos/imagens, ao criar superfícies imagéticas que se insurgem como aparições.
Esse é o enigma desvendado: o que conta para sua obra não é o objeto em si, mas a imagem como potência virtual e atual, criando um campo pulsante de real que nos oferece o mistério como transparência na imanência da matéria que se transforma a todo instante; que se faz sempre presente: ontem, hoje, amanhã.
Marcio Doctors
Curador