Claudia
Bakker
PRIMAVERA NOTURNA
6ª edição
07 de junho a 26 de agosto de 2007
ESTADOS DE METÁFORA
Primavera noturna é uma obra sobre a germinação noturna. Esse trabalho, assim como o conjunto da obra de Claudia Bakker, trata do devir feminino como potência da transformação. Primavera noturna estabelece forte correspondência (aproximação de tempos) com o culto da deusa mais querida e venerada da Grécia antiga, a deusa agrícola Deméter, responsável por todas as formas de reprodução da vida, mas principalmente da vida vegetal, cuja forma de expressão era a beleza.
A fina sensibilidade da artista cria uma presença visual que enfatiza materializando os circuitos do pensamento, da invenção e do desejo, através de um sistema de entrelaçamentos de tubos de pano cor de rosa, como raízes poéticas ascendentes, que, ao unir as cadeiras (os personagens da vida de Eva Klabin), vão em direção ao lustre central da sala em busca da luz, que espalha um tom rosado pelo ambiente, gerando uma atmosfera de harmonia e beleza, tal como Deméter necessitava para desencadear a abundância da colheita: primavera noturna, quando a potência do pensamento se iguala à potência da matéria.
Claudia Bakker reafirma essa sua intenção quando espalha pela sala de jantar livros de arte trazidos da biblioteca da colecionadora e estabelece uma cumplicidade com ela, ao colocar sobre a mesa, servido como um alimento, um único livro de arte que traz de sua biblioteca particular, aberto na página com a reprodução da imagem de uma das onze ilhas da Biscayne Bay circundadas por tecidos cor-de-rosa, de Christo e Jeanne-Claude, remetendo à ideia de uma vulva gigante flutuante feita de pinheiros. Assim, através dessa imagem, a artista faz emergir a lembrança de Deméter, deusa da reprodução da vida, desencadeando no ambiente da sala as energias imateriais da sexualidade e do pensamento, indispensáveis nos processos criativos que envolvem arte e colecionismo.
Marcio Doctors
Curador